Não é segredo pra ninguém que a regra de 3 é o conhecimento matemático mais importante da humanidade. E o principal motivo disso é que ele abrange todas as incontáveis fatias da sociedade; desde quem precisa passar no Enem, trespassando a construção civil com seus cálculos de proporção do engenheiro ao servente, até quem precisa fazer os cálculos mais sofisticados. Ou seja, a verdadeira sabedoria vem da regra de 3; seja ela popular, seja ela técnica. E hoje trarei pra vocês uma variação da sabedoria milenar, aplicada ao consumo em tempos onde há tanto a consumir que devemos abdicar: a regra de 3… episódios.
Ela pode ser aplicada em qualquer mídia, mas nos animes e nos mangas são onde ela é mais popular, já que são mídias historicamente capitulares, onde o capítulo tem uma importância em relação ao todo muito mais arquitetada que em outras mídias comumente lançadas em sua forma integral. O funcionamento é simples: vejo três capítulos, se nada me agradar ou os agrados forem inferiores às outras coisas que estou consumindo no mesmo período, eu abandono sem culpa. E, se tratando de animes, ela se torna ainda mais importante, já que eles costumam ser lançados por estação e ninguém tem tempo e disposição para acompanhar todos, então é preciso saber escolher.
Óbvio, que como toda boa regra, ela tem exceções. O maior exemplo é Madoka Magica, que tem o seu turning point de apenas bom anime à obra milenar inalcançável no seu quarto episódio. Ano passado experienciei um caso invertido, quando me apaixonei perdidamente nos primeiros três episódios e logo em seguida se mostrou apenas enrolação sem sal e com péssimo ritmo.
E o texto de hoje é pra quem não tem tempo de fazer as suas próprias regras de 3, não se preocupem, eu faço pra vocês. Infelizmente não consegui assistir tantas coisas diferentes nessa temporada, mas acredito que seja o suficiente pra deixar algumas opiniões.
To Be Hero X
Só vai assistir, vô nem falar nada, esse aqui a regra de 3 deveria ser regra de 3 minutos, porque depois do terceiro minuto já sabemos exatamente que é um anime evento daqueles que em alguns anos poderemos nos gabar de ter visto enquanto era lançado.
Anne Shirley
Esse aqui ou você ama ou odeia e você já consegue saber disso no primeiro episódio. Assistiu o primeiro episódio e achou incrível? Pode investir até o final, que é aquilo ali mesmo. Assistiu o primeiro episódio e não gostou? Já abandona. Não insista. Sim, Anne Shirley é aquela mesma Anne Shirley da série Anne with an E. Muita gente que não gostou dos primeiros episódios da série insistiu e se apaixonou? Sim, e aí fundaram uma das fanbases mais insuportáveis da internet na época. Então, como grande fã da série e agora do anime, minha recomendação é, gostou do primeiro episódio, só vai, seja bem-vinde. Não gostou? Nem insiste, pra não virar aqueles fãs chatos no futuro.
Super Cube
Já podemos decretar a falência do Japão? O outro anime chinês badalado da temporada é Super Cube, terminei ontem o terceiro episódio (apesar de já ter 7 lançados) e é difícil não hypar. O primeiro episódio é uma obra prima incontestável, o que já me fez ir pro segundo procurando falha porque não tem como dois animes na mesma temporada manter aquele nível de qualidade e sim, o segundo episódio não chega nem perto do primeiro em alguns momentos, porém em outros é tão bom quanto. O terceiro tem muita cena escura naquela pegada Zack Sneyder que me incomoda, mas ainda assim tudo muito bem feito. A história, aparentemente, é muito menos sofisticada que a de To be Hero X, mas ainda assim tem premissas interessantes e atiça a nossa curiosidade, sem dúvidas vai ser um dos animes do ano e, apesar de muitos chamarem de solo leveling chinês (por causa da vibe gameficada do enredo), tem uma história que parece muito melhor trabalhada que seu adversário coreano.
Wind Breaker 2a temporada
Até então a grande decepção do outono (pra gente é outono, então vou chamar de temporada de outono sim). Amei demais a primeira temporada desse anime, principalmente pelo carisma esquisito dos personagens e pelas coreografias muito caprichadas em todas as lutas. Porém a segunda temporada já começou numa porradaria desenfreada com uma gangue sem carisma algum e sem qualquer substância pra realçar o carisma dos personagens principais, muito pelo contrário, eles parecem terem sido sugados para a falta de identidade e personalidade dos adversários em questão. Dois episódios inteiros foram assim e o terceiro não se destacou o suficiente pra estancar o sangramento causado e o pior; as coreografias tão bem trabalhadas da primeira temporada desapareceram ou ficaram tão tímidas que acabaram por ser sucateadas em meio à pancadaria sem sabor. Não fosse uma segunda temporada, seria o anime mais dropável do outono, mas como já assisti coisas incríveis dele, vou dar o braço a torcer por mim, não recomendo aos demais.
The Beginning after the end
Todo mundo odeia TBATE, é impossível ver alguém na internet feliz com TBATE e eu queria muito ser o advogado do diabo aqui e falar “não é pra tanto, podem assistir”, queria. Não consigo. O anime ser feio e mal feitinho raramente é um problema pra mim, apesar de TBATE se supera em ser preguiçoso na animação, mas eu não consigo defender esses três primeiros episódios, porque além do anime, eles não entregaram nada demais. Não tem nada grotesco de ruim e mal feito na história, mas ela me parece perdida no nem-nem; nem acelera o suficiente pra gerar o hype que a mídia animada pede (tal qual solo leveling) e nem sabe desacelerar pra desenvolver os momentos de modo que um anime mesmo sem hypar, cative (tal qual frieren). TBATE, sem uma animação minimamente decente, precisaria se superar em um desses extremos e ele fica em cima do muro só sendo um mais do mesmo, só que feio.
Devil May Cry
Outro terrivelmente odiado na internet pelos fãs do material original, tal qual TBATE. Mas aqui eu consigo exercer minha função de defesa, porque não faço ideia de nada sobre o material original (o que eu conheço de videogame se limita a league of legends e winning eleven) e represento o público que vem de paraquedas e, representante deste, devo dizer que o anime tem três primeiros episódios muito divertidos e intrigantes, a série pode se estragar no decorrer? Com certeza, mas até aqui é uma obra que definitivamente eu tenho vontade de assistir (e ouvir Limp Bizkit em toda opening é uma experiência diferenciada).
Os dois de bruxa
Pra ser mais sucinto na análise vou colocar Witch Watch e o da bruxa que tem que juntar 1000 lágrimas de felicidade em um ano pra não morrer, não por serem os dois de bruxa, mas por serem animes que são muito competentes no que se propõem: animes gostosinhos, sem muito pra pensar, pra se divertir e sentir coisas gostosinhas, passar o tempo, etc. Witch Watch tem suas pegadas de romancezinho daquele bem morninho e gostosinho, enquanto Aru Majo ga Shinu Made vai mais pro lado de ser sentimental, basicamente um valoriza a construção de sentimento e outro valoriza sentimentos já construídos sendo revividos. Ambos valem a pena ser assistidos se você gosta dessa coisa mais banho-maria, com um humor bobinho e sem muito hype artificial. Se eu tivesse que escolher um, seria o da bruxa que cata as lágrimas, com muita tristeza porque gosto de Witch Watch desde o mangá, mas a premissa desse me prende muito mais.
Yaiba
Eu não entendo muito a vibe desses reboot de anime antigo, o que tá fazendo isso ser tão frequente, mas tô gostando, não tanto, mas tô. É bom pra passar o tempo e só, se você não tem tempo pra desperdiçar, fique longe. Porque, até então, Yaiba perde em todos os quesitos pro Ranma 1/2 da temporada passada, então se você quer ver um reboot só, seja por nostalgia, seja pra entender como era antes. Opte por Ranma 1/2, mas Yaiba não é ruim, só não tem muito a acrescentar.
The Gorilla Gods Go-To Girl
O que dizer do anime da mina Deus Gorilla, não é mesmo? Não faço ideia, três episódios não foram capazes de me fazer formular uma opinião, talvez por ele me lembrar amor doce e esses joguinhos de paquera, talvez por muita coisa acontecer, talvez por sei lá qual talvez. Só sei que é um anime muito divertido e recomendo que todos assistam 3 episódios pelo menos pra tentarem decidir se agrada ou não vossos paladares.
Moonrise
Esse já assisti inteiro e já tem até pitacos aqui no blog explanando minhas decepções com a obra. Porém, como esse é um texto sobre os três primeiros episódios, moonrise tem os melhores três primeiros episódios da lista, atrás apenas de to be hero x… Só que depois descarrila em um monte de pontas abertas sem qualquer pretensão de serem fechadas, mas é um anime que vale a pena pelo seu charme técnico.
E esses foram todos os animes que assisti até então da temporada. Se eu pudesse escolher apenas três pra continuar, sem dúvidas, escolheria os dois chineses e Anne Shirley. O que vejo mais potencial de me divertir horrores é o da mina Gorilla, mas também é o que tem mais potencial de ser uma grande decepção. Não vou dropar nenhum essa temporada, mas os mais dropaveis da lista são TBATE, Yaiba e a segunda temporada de Wind Breaker que está bem aquém da primeira. É isso, espero ter ajudado nas escolhas de vocês e se vocês só tiverem tempo de assistir animes por 20 minutos semanais, não deixe de acompanhar To Be Hero X, conselho que vale um caminhão de abóbora. Pode ser uma grande decepção no final? Pode, mas só o que eles estão fazendo no quesito animação já vale a experiência (e eu não acredito que seja uma decepção porque o anime é do mesmo criador de Link Click e o querido sabe o que faz, pode confiar).