seria madoka mágica a musa de li haolin

Ontem assisti o quarto episódio de to be hero x e acredito ser mais que suficiente pra levantar essa bola, na verdade, desde o primeiro que quero falar sobre isso, esperei um pouco pra ver se rolaria algum distanciamento do meu julgamento, nada até então.

Madoka Magica é sem dúvidas um dos animes que ocupa mais espaço nos meus pensamentos, mesmo que eu tenha assistido uma única vez e que ele tenha apenas 12 episódios. Muito provavelmente, todo esse espaço mental ocupado por esse anime seja derivado do quanto Albert Camus eu enxergo na obra e agora, cursando uma disciplina inteira específica de Kafka mais ligações me ocorrem e não existe um único dia que consigo dormir sem pensar em Madoka Magica, ainda mais com o anime do ano sendo provavelmente To be Hero X. Ou seja, minha mente está plenamente ocupada pelo absurdo, porém o chinês to be hero x e o japonês Madoka Magica (e um pouco também o coreano Sweet Home) me fazem refletir um pouco se existe muito Camus nessas obras ou se existe muito do que existe nessas obras em Camus, mas isso é papo pra outra hora, pois muita pesquisa ainda é necessária pra descobrir os equivalentes ao absurdo europeu na filosofia oriental. hoje queremos falar sobre Li Haolin, diretor e roteirista de To be Hero X que me faz tanto lembrar de Madoka Magica com o seu confiança x medo sendo tão parecido com o esperança x desespero das meninas mágicas. Ou podemos ir mais fundo se trouxermos para a discussão o Bridon Arc de Link Click (outra obra de Li Haolin).

É consideravelmente complicado darmos algum veredito sobre Link Click, adivinhar o que vai acontecer ou interpretar todo seu conteúdo de maneira simplória. Porém, o que podemos entender do Bridon Arc é que Lu Guang está desesperado para refazer o passado de modo que exista um futuro onde Cheng Xiaoshi não morra, espera. Eu já vi isso em algum lugar. Personagem mais reservada, que volta no tempo incontáveis vezes pra impedir uma tragédia na vida de sua amiga mais extrovertida e alegre. Lu Guang e Homura Akemi se distanciam em personalidade um pouco no comportamento mais calculista do chinês, porém em todo o resto, parecem sempre esconderem alguma coisa, mantém-se reservados, trazem aquele ar misterioso e um olhar mais vazio que só sente-se preencher na presença do sentimento de seus amigos queridos. É quase como se ambos não tivessem sentimentos próprios e conseguissem sentir apenas através do sentimentalismo de outrem. Madoka e Cheng Xiaoshi não são tão parecidos, exceto por sentirem demais e esse sentimentalismo transbordar ao ponto de impactar a vida dos agentes mais presentes em suas histórias. Ambos, link click e Madoka Magica, colocam seus protagonistas como escada para explorar a história de um segundo personagem principal, para descobrirmos as reais intenções deles e mergulharmos intimamente na luta angustiante para salvar a pessoa amada em uma — literal — luta contra o tempo. Outro ponto importante em convergência entre eles é o famoso “faça o que eu digo, não o que eu faço”, já que o Lu Guang tentando incansavelmente mudar passado sempre adverte Cheng Xiaoshi para que esse tome todo o cuidado possível para não mudar nada em suas viagens fotográficas e Homura tenta evitar a todo custo que Madoka torne-se uma garota mágica, como? Sendo uma garota mágica.

Assistir o Bridon Arc e Madoka Magica sem perceber essas semelhanças é possível e pode ser só uma loucura da minha cabeça fazer essas comparações, por mais escancaradas que elas pareçam ser. Por isso, o que me fez ter coragem de ligar o anime japonês ao diretor e roteirista chinês foi to be hero x e seu sistema de poder baseado na dicotomia confiança x medo, palavras e conceitos diferentes dos esperança x desespero de Madoka, mas que trazem um significado quase sintomático deste — se esperança fosse uma enfermidade, confiança seria um sintoma; do mesmo modo ocorre com o desespero e o medo. Forcei a barra pra comparar? Talvez, mas se tratando da grande abstração que é a esperança, acho complicado que possamos sentir algo tão grandioso sem estarmos confiantes em algo, sem termos pelo caminho a fé para esperançarmos; e de igual maneira funciona o simplório medo, que pode ser sentido pelas coisas mais inofensivas, mas sem temermos nada, jamais ficaremos desesperados. O sistema central de poder de to be hero x seria então um caminho para o sistema entrópico visto em Madoka, onde as grandes esperanças e sonhos das garotas mágicas, desgastam-se até tornarem-se bruxas que causam desespero e destruição correspondentes ao tamanho (se é possível quantificar) de suas próprias esperanças. Acredito que a dicotomia de to be hero x vai caminhar para um caminho diferente na animação, porém não deixa de ser intrigante que o mesmo autor com personagens tão parecidos com os de Madoka traga em outra obra conceitos e abstrações com similaridades palpáveis.

E só nisso, acho que já poderíamos cravar que Li Haolin — cabeça por trás de Link Click e To Be Hero X — é um grande fã de Madoka Magica ou bebeu nas mesmas fontes que os produtores desta. Só que tem mais.

Suicídio, o principal problema da filosofia para Albert Camus, aparecendo aqui no blog pelo segundo dia seguido e ambos — autor e ato — estão presentes tanto em Madoka, quanto Link Click, quanto To be Hero X. Camus talvez seja completo desconhecido dos autores orientais com sua própria filosofia e seus conceitos milenares, talvez não seja, pra sair do perigoso terreno dos talvezes, vou focar apenas no Suicídio. O literal. Presente em link click nas viagens de Cheng Xiaoshi por fotografias, o tema guia todo o ritmo e acontecimentos da primeira temporada, apesar de pouco se falar sobre ele em si. Em to be Hero X, novamente, desta vez mais evidente, com o funcionário recém-demitido na beira do precipício (prédio) vê sua vida mudar ao ser a única testemunha de alguém se atirando e tomando seu lugar (o que é uma situação engraçada de se pensar sobre, já que toda a trama dos 3 primeiros episódios são sobre Lin Ling tomar o lugar de Nice, quando na verdade ele que teve seu próprio suicídio roubado de si, quando o herói atirou-se na sua frente). E Madoka dispensa comentários, toda a atmosfera e a ação de muitas bruxas seguem o rumo de forçar as pessoas a tirarem suas próprias vidas.

Li Haolin chegou pra ficar e vamos ouvir falar muito ainda desse autor, se as marcas “madokianas” das suas criações são reais ou só doidera da minha cabeça, só o tempo dirá, mas se tanta gente encontra o auge da filosofia no — superficial confesso — Neon Gênesis Evangelion, permitirei-me os delírios e acompanharei passo a passo do diretor e roteirista chinês em busca de encontrar o porta-voz do absurdo de nossa era. Ele será minha musa, tal qual Madoka Magica é a dele.

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