senso de urgência

Semana passada, Alfenas perdeu um importante servidor vítima de um ataque cardíaco com considerável possibilidade de ter ocorrido devido a ataques racistas e homofóbicos que ele tenha sofrido de um militar. Poderia falar sobre dezenas de assuntos relacionados, poderia fazer uma homenagem ou uma denúncia (mesmo sem ter conhecido Orlandinho). Amo Alfenas e, mesmo sem conhecer, amo aqueles que fazem da minha terra um lugar melhor e sei que ele foi um desses e continuará sendo. Poderia muitas coisas, entretanto optei por começar esse texto falando disso por motivos puramente egoístas.

Horas antes de saber da notícia, eu estava fazendo um vídeo humorístico pra zombar do nosso ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e fui pra festinha da minha rua, onde senti umas pontadas esquisitas no peito. Não é a primeira vez e elas não foram diferentes das anteriores, algumas mais de 10 anos atrás. Eu sou diferente hoje. Sou menos de 10 anos mais novo que ele e nem de longe tenho um cuidado tão bom com a saúde quanto alguém que vivia pelo esporte. Preciso me cuidar melhor e essa fatalidade me fez enxergar com mais nitidez isso, me fez ter senso de urgência. E, de quebra, me fez perceber o porquê de eu ter largado a terapia.

Fiz minha última sessão mês passado e fui embora dizendo que eu queria abraçar o caos um pouco e precisava tentar focar na minha socialização e algumas outras coisas. Não sabia explicar o porquê eu precisava parar, mas sabia que precisava. E agora entendo um pouco, porque a terapia é perfeita pra conseguirmos lidar com a vida e nas minhas muitas sessões sempre fui confrontado com a incontestável verdade que não há porque correr, sempre, em minhas loucuras por fazer isso ou aquilo, fui confrontado com “tá, ok, precisa, mas se não acontecer pra ontem, tem problema?”. Se pensar logicamente em todas as coisas, nada é caso de vida ou morte pra mim e estando na terapia isso ficava mais claro a cada sessão e, pô, muito bom não viver nenhum caso de vida ou morte. Porém, minha cabeça não serve pra esse banho-maria, porque ela vai me deixar lá pra sempre e toda minha caminhada será desfeita em algum momento, porque minha cabeça é fodida e, eu sei que a terapia deveria ajudar com isso, mas no meu caso atrapalhava. Por minha própria culpa, esteja dito e declarado.

Entrei no Julho das Faxinas pra arrumar tudo que eu tinha pra arrumar, porque meu agosto tava decidido, começar minha carreira no tiktok. Faxinei a Fiorino, meu quarto de baixo, a casinha de cima (apesar de não ter terminado), faxinei de novo o quarto de baixo pra completar de tirar o que sobrou e, pensando sobre minha carreira no tiktok me deparei com uma faxina que não conseguiria fazer a tempo, porque o tempo que ela exige é muito maior que um julho. E talvez não haja como fazer essa faxina em toda uma vida, mas não é porque é impossível fazê-la por completo que eu vou evitar de varrer um pouquinho aqui e passar um paninho ali.

Antes de falarmos sobre essa faxina, outra coisa que eu tinha planejado a muito tempo eram umas férias, uma semaninha pra só ficar eu e minha cabeça, meus livros e escritos talvez, só eu e coisas analógicas. Não consegui ter no prazo determinado (final de julho, essa semana agora pra ser mais preciso). E foi pensando sobre o que fazer com meu tiktok, se mantinha a pilataliyah, se mudava pra Odradek ou quetzal, ou sei lá, que derreti e percebi que eu nunca vou conseguir ter essa semana a menos que eu dilua ela em várias outras semanas. Talvez fosse isso que a terapia tentou me contar o tempo todo, mas eu me recusava a ver, porque estava sempre com um falso senso de urgência me guiando. Um senso de urgência que me fazia querer arrumar tudo em uma semana ou desistir por ser impossível arrumar.

É engraçado quando às vezes a gente precisa sair de um ambiente pra entender tudo que foi dito ali. Sei que não entendi tudo ainda, mas quero refletir sozinho por mais um tempo e é sobre isso que a faxina principal vai ser. Uma reflexão solitária. Não, não vou me abdicar da vida em sociedade, não vou me isolar em casa, não vou pro meio do mato. Por mais que eu gostaria de alguma dessas coisas. Inclusive estava assistindo uma série há pouco que a protagonista vai pra um centro de reabilitação e tudo que eu queria era algo parecido, sem os remédios. Inclusive na minha penúltima terapia, conversei sobre o que eu faria se eu ganhasse na mega-sena e as duas coisas que me vieram à cabeça foram: contratar uma pessoa pra gerenciar minha vida e me internar por uns 5 ou 6 meses em algum lugar sem celular, sem computador, sem televisão. E é engraçado como o que eu estava pensando fazer era o oposto, me enterrar na gravação de conteúdo. Viver 24/7 não só conectado, como imerso e impresso no mundo digital. Mesmo depois de sonhar em ganhar na mega-sena não pra comprar uma mansão, mas pra me internar. É engraçado como nossa mente é totalmente bizarra e como a gente tira as conclusões mais absurdas do que ela nos diz.

O que nos leva ao meu outro investimento caso ganhasse na mega-sena, um gerente da minha vida. Claramente não tenho condições hoje de arcar com um, mas espera, eu saí da terapia dizendo que queria que o caos reinasse um pouco a minha vida, não? Então com R$20,00 comprei um gerente. Um jogo de dados de RPG que vão gerenciar pelo menos 37% do meu tempo. Acho que vai ser divertido, se não for, tanto faz, é só largar mão. O que eu não posso largar mão agora é de fazer um Detox digital. Não quero mais escrever todas as minhas coisas no celular ou computador só porque eu odeio o serviço de digitalizar. Não quero todas as influências externas de shorts, reels e tiktoks me fazendo perceber uma verdade sobre mim diferente por dia. Eu preciso de uma faxina interna pra entender algo sobre mim e, no momento, tenho a convicção que tudo que sou foi imitado de algum lugar e é difícil demais entender se isso está certo, se existe algo de verdade sobre mim ou se é tudo imitado mesmo, se diariamente muito conteúdo entra na minha cabeça e lá estou tendo novas convicções de que aquela opinião que ouvi é o que sou. Sempre fui ou estou imitando algo novo com suficiente proficiência pra nunca construir nada que possa chamar de eu. Sei lá, sabe? Só preciso desse detox. Mas antes de finalizar queria falar sobre mais umas coisinhas.

Outra coisa que percebi ser negativo na terapia pra mim é o saudável parar de se comparar com as pessoas mais bonitas, parar de se comparar com os mais inteligentes, parar de se comparar com os mais bem sucedidos. A terapia ajuda bastante nisso, mas porra. Isso me fode muito. Porque quando entro nessa vibe saudável de evitar as comparações, eu crio toda uma suposição matemática sistemática e elaborada, onde elejo as 10 mil dos dois polos de algum assunto e pô, tô sempre tranquilo, longe dos 10 mil mais esclarecidos, com certeza, mas muito mais longe dos 10 mil que estão na merda por causa daquilo. Tipo, consumo digital. Eu estou longe das 10 mil pessoas em uma realidade similar a minha que menos ligam ou dependem desse consumo desenfreado, mas com certeza consumo muito menos e tenho muito mais tempo de trégua que os 10 mil mais fissurados. E isso se repete em todos os casos, sedentarismo, sucesso, financeiro, sonhos, etc. E isso deveria ser reconfortante, deveria ser leve, mas é insustentável, porque parece que saber disso me segura em um falso conforto que dói mais que qualquer situação de vida ou morte que eu poderia imaginar. Sei que estou só sendo dramático ao extremo e que não queria de verdade viver nenhum vida ou morte, mas esse é o problema, porque estou me justificando por ser dramático? Se ser dramático é tudo que eu mais quero? Por que me esforço tanto pra me convencer que esse marasmo tá tranquilo e fico me contentando com ter escrito 1000 palavras por 3 dias seguidos? Não é suficiente se eu quiser mudar alguma coisa e é isso que eu quero. Mudar alguma coisa. Ter senso de urgência.

E nesse senso de urgência que percebi que não dá pra esperar ganhar na Mega-Sena pra me purificar de tanta informação pra poder descobrir algo sobre mim. Tenho que tentar e não me importar se eu estou mais longe de ser o pior que o melhor em qualquer coisa. Por isso quero excluir todas as redes sociais (exceto o wpp, porque infelizmente preciso deste) e viver um período com o mínimo de contato digital possível, escrever analogicamente, ler analogicamente. Se eu tiver de transcrever as coisas um dia, que eu transcreva. E que é mais fácil e saudável abandonar as ideias e projetos da carreira internauta por ora e, quem sabe um dia, retornar. Do que começar agora e nunca ter o tempo certo pra fazer a faxina mais importante depois. Quero me purificar disso tudo e por mais que seja impossível garantir uma purificação em curto prazo, quero conseguir limpar o máximo de cômodos possível.

O blog entra em hiato junto, porém pretendo voltar pra cá antes do resto, mas não garanto nada. Só preciso dar um tempo, entender melhor quem sou eu, descobrir quanto das minhas metas são minhas e quantas imitadas e saber diferenciar quais imitações valem a pena ser mantidas. Com certeza quero ser visto, isso é algo que me assombra na minha introspecção, porque quero muito me mostrar, me deixar ser visto e ser comentado. Mas não quero fazer isso sem saber se o que vai estar no palco tem suficiente eu pra poder chamar aquilo de ser visto.

Tudo muito confuso, né? Mas acho que é por aí, tudo ficou confuso demais de tantas ordens e organizações que tentei botar, agora quero bagunçar um pouco, porque se tem algo que aprendi nas faxinas que fiz recentemente é que uma faxina nunca estará completa, mas se a gente não bagunçar tudo pra depois arrumar ela não estará apenas incompleta, ela será tão insuficiente quanto se nenhuma faxina tivesse de fato sido feita. Por isso a meta agora é bagunçar tudo pra só depois que tudo estiver uma zona, ir achando as gavetas e compartimentos certos pra cada coisa, pra cada desejo. E não tem como fazer uma faxina digital, ela tem que ser analógica, tem que ter o tato, o cheiro. Por pior que seja o ataque de rinite que ela causará, ainda assim vale mais a pena que nunca arrumar as coisas satisfatoriamente ou melhor que isso. Por isso todo esse texto é pra dizer que a partir de agosto não vou começar minha carreira digital, vou ceifar minha vida digital. Morrer digitalmente é a única saída pra conseguir encontrar algo do meu eu-analógico e só então conseguir renascer. Por isso não, em agosto não só abandonarei a ideia de virar creator, como vou parar de consumir creators. Não completamente, porque vez ou outra vou acabar assistindo alguma patifaria no YouTube, mas vou evitar o máximo possível e só o farei no computador, no celular espero que apenas em 2026 ou, se necessário e a faxina ainda não estiver satisfatória, 2027. É isso, c u. 💙

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