continuação eu-lírico

pilataliyah. A personagem de League of Legends Taliyah + pirataria com o toque Maurício de Sousa de cebolinha, uma pirataria imperfeita, mas que em suas imperfeições torna-se ainda mais bonita, pois foge do padrão. Poderia ser só mais um nickname dos muitos que tive, postos ou escolhidos. Dos muitos postos, o mais duradouro sem dúvidas é Dragon, a figura mitológica que simboliza poder, o réptil gigante voador que diz muito sobre muitas coisas, sobre mim? Não sei. Amo o dragão latinoamericano, o Quetzalcoatl, mas esse não conta, é divino demais, contrapõe-se ao meu angustiante desejo de alcançar o terreno (papo pra outra hora). Não desgosto desse ou dos outros dragões, muito pelo contrário, sou fascinado como a grande maioria das pessoas; o que me faz gostar de ser Dragon na maior parte da minha vida, apesar de não me identificar com todo esse poder de fogo, destrutivo, imponente. Até quereria não fosse a preguiça das responsabilidades que esse poder traria. Recebi muitos outros apelidos, quase não os recordo. O importante são os que me alcunhei: NoID, a falta de identidade por gostar de muitas coisas e espaços diferentes, por não ter uma personalidade marcante me fez querer ser o sem identidade, no ID, infelizmente lido tudo junto virou noide e perdeu o charme pra mim; no começo de tudo fui Pepsiman, agradeço todo dia por a terem roubado de mim; depois Dezessetesinho, por amar primos e mais ainda o número 17 por ser semelhante em sua grafia ao querido π (as famosas doideras da adolescência); quis até fazer uma heteronímia de todos os outros que houveram, querência que não abandonei, talvez a traga para o blog um dia; estacionei na pilataliyah. Nick que perde em duração para Dragon e Dezessetesinho, porém aquele se torna meu projeto de futura na imagem do quetzal, que vocês vão ouvir o canto; este está incluso na circunferência, porque na minha cabeça 17 é π, grotesco erro de matemática, feliz acerto dos olhos. O ponto é que o Dragão das florestas latino americanas é o meu ponto de agência, o 17 meu ponto de referência, sobra pra pilataliyah ser o ponto de “sercência”. O poder do dragão os fará ouvir meus projetos, minhas produções, meus sonhos realizados, é o que quero fazer; a tudologia do 17 são as referências que absorvi, o que me faz querer; já a pilataliyah faz e quer, quer e faz, não só, é. O que é? Isso que queremos descobrir.

Sei que é “paia” denominar um eu baseado em personagens e ofícios, porque se sou Taliyan e pirata, sou menos eu. Vou apostar no conhecimento popular de subir em uma árvore pra encontrar algo perdido, distanciar para encontrar ou pra perder mais ainda até que tudo fique tão amplo e tão distante que torne-se impossível o essencial de não ser tocado integralmente em meio ao todo cada vez mais expandido. Chega de delongas e vamos falar de pilataliyahs.

Taliyah: desde o lançamento apaixonei-me pela tecelã das pedras, não sei se pela sua origem tribal (que no worldbuilding de Runeterra assemelha-se a origem interiorana que encontro-me tangencialmente inseride), pela sua estética (que à época era muito destoante das 87 personagens femininas impossíveis de se diferenciar quando tiradas as suas roupas tradicionais), pelos seus poderes, pela história vivida fora da aldeia, por sei lá quais outros motivos. O que escolhi pra chamar de meu motivo foi a jogabilidade. Em seu lançamento, a frase que mais ouvíamos sobre a campeã é que ela era uma típica personagem que faz tudo, porém pra tudo que ela faz existe um grupo de personagens que faz aquilo melhor que ela. Frase que me conquistou instantaneamente, afinal sempre me senti uma “pessoa pato” que anda, nada e voa pior que quem anda, pior que quem nada e pior que quem voa. Porém, isso durou muito pouco, já que a Taliyah em pouco tempo provou-se a melhor do jogo em algumas funções específicas que não eram tão valorizadas antes dela ser lançada e, mesmo hoje, depois de ser enfraquecida nestas funções, ela segue sendo a melhor opção em diversas estratégias diferentes. O fato é que, mesmo saindo do ponto inicial que me fez apaixonar, ela nunca deixou o espaço que ocupa no meu coração, muito pelo contrário. Talvez seja o fato de ela ter superado o seu status pato e “criado” um jeito novo de se jogar que valorizasse suas forças, talvez sejam as teorias da comunidade sobre a sua transgeneridade, talvez muitos talvezes, mas se eu tivesse que apostar, apostaria no “muito pelo contrário”.

Quando ainda jogava League of Legends frequentemente e me tornei “mono Taliyah”, sempre me incomodei quando ouvia ela falando “uma tribo sem tradição é como um rebanho sem pastor”; tanto pelo meu preconceito com esse pensamento conservador, quanto por ser contraditório com a própria campeã que precisou explorar o novo para compreender seus poderes e em suas próprias frases no jogo, como “ficar parada é mais perigoso que seguir em frente”. Até que o tempo passou e a cada dia que passa descubro um pouco mais sobre o conservadorismo ser — não só diferente — antônimo ao que conhecemos por conservadorismo hoje em dia, afinal não existe nada de conservador em defendermos doutrinas religiosas que pouco sabem sobre nós e menos ainda há de conservador na desesperada vontade de preservarmos o poder capital e as funções sociais impostas pelos capitalistas e nem preciso falar que reacionários são inimigos declarados de qualquer conservação que possamos imaginar. Um dia me aprofundo sobre isso, mas o caráter conservador que envolve a personagem é uma das coisas que mais me fascina, nascida em uma aldeia nômade, onde as únicas opções pra população são pastorear e costurar; Taliyah recebe um grande poder, nunca antes visto por seu povo, decide aprender sobre ele longe dali, mas nunca deixa que se denominar a Tecelã das Pedras, de narrar o mundo como seu tecido e as pedras que ela domina como suas agulhas. E assim, mantendo suas origens e convicções, sendo fiel à sua própria ingenuidade e confiança no próximo, Taliyah busca o aprendizado sem nunca se saciar, porque o que a conserva não a impede de evoluir, auxilia.

Pirataria: Todo grande fã de One Piece ama uma boa e velha pirataria não é mesmo? Com certeza o Oda Gênio ajudou a potencializar isso em mim, mas o buraco é mais embaixo, quão mais embaixo? Não faço ideia, tenho lembranças de uma versão mais jovem minha que desconhecia One Piece afirmando que queria ser pirata, tenho muitas lembranças de declarar esta vontade depois de One Piece também, a mais recente, porém foi a que mais me surpreendeu foi recentemente em sala de aula quando conheci o básico da história de Johann Gottfried von Herder que definitivamente não era um pirata, mas sua história brilhou os meus olhos e me fez recordar da afirmação que mais fiz alguns anos atrás: “quero ser pirata”. Herder foi um dos grandes responsáveis pela revolução cultural alemã, não tão lembrada quanto a revolução econômica francesa ocorrida em um período similar. Dizer o quê? Acumular sempre foi mais importante que criar. Trago ele pra esse texto, porque saber que grande parte do que revolucionou a sua mente, antes que ela tivesse o contato disruptivo que moldaria o período que estava por vir com os mais afamados e influentes Goethe e Schiller, ele decidiu jogar-se ao mar, vislumbrar a vastidão e nesse vislumbre, encontrou mais de si que se encarasse espelhos por eras; encontrou o mundo íntimo que romperia pra sempre com o distanciamento cru que o classicismo submetia entre as segunda e primeira imitações de Platão. A Tempestade e o Ímpeto, muito porcamente imitados no mundo trouxeram, através do mar, a ventania capaz de chacoalhar as estribeiras do mundo, porque agora os sentimentos entravam em uma discussão que as considerava impurezas, o demônio de Descartes corrompendo a pura e divina razão. Apesar de não ser um pirata, Herder lançou-se ao mar e saqueou a segurança das convicções direto do tecido de costumes em encobre o mundo. Tudo isso é muito romântico, eu sei; distanciar a pirataria de escorbuto, assaltos, sujeiras e mortes nojentas é muito romântico, eu sei; falar que o tão odiado romantismo é mais disruptivo que as revoluções burguesas é muito romântico, eu sei; querer ser pirata em 2025 é muito romântico, eu sei. E daí?

Depois de tantas palavras jogadas a esmo nesse texto tudo que posso dizer é que quero abraçar o ridículo de tentar encontrar o microscópico sem lente e me afastando cada vez mais. Quero navegar para buscar a tempestade, quero me aventurar para entender a segurança das pedras. A terra tão estática e estável que a Taliyah representa em sua fome por conhecimento, a ventania sentimental que só pôde ser encontrada por um pré-romântico em alto-mar. Por que criar um blog? Que outro motivo teria? Quero inventar o fogo, e daí que estou caçando o mar, a ventania e as pedras? Se existe um jeito de se criar fogo, só pode ser esse. Tecer pedras em alto-mar e, se possível for, na tempestade.