Foi um 3 a 0 seco e com gap em todas as posições do jogo que dão um título impossível de contestações à Fúria. Além disso, um título que crava a Pain Gaming como a verdadeira mata-noob do cenário, tendo disputado 9 finais nessa década e vencido duas, uma contra a inexistente VRX e outra contra a minúscula que cê vê grande Keyd (que não tem título, não importa a copa leiteiros que a Riot inventou pra eles se acharem campeões).
Provocações às nanicas feitas, vamos ao que interessa, o título da Fúria. Uma fúria que quando foi anunciada muito se ouvia dizer que “se não encaixasse, disputaria as últimas posições” e quando se falava de “encaixar” entregavam o top 4 pra ela e achavam de bom tamanho. Uma fúria com três campeões brasileiros e dois grandes talentos da nova geração e o melhor que davam pra ela era um top 4. Eu não, e não estou sendo engenheiro de obra pronta, tenho registros em novembro dizendo que eu conseguia ver igualmente essa Fúria em todas as colocações do campeonato e é com muita felicidade que o campeonato termina com eles encabeçando, porque é muito mais que um time carismático e que joga bonito, é um time que dá esperanças sobre a renovação do cenário e que mostra que sim, 5 brasileiros ainda podem vencer a LTA. 5 brasileiros de 1,60? Sim, ainda 5 brasileiros. 5 brasileiros envolventes e carismáticos.
Começando pelos polos, em posição e gameplay: Guigo e Jojo. Campeões em uma Red Canids que só se falava em Aegis e Titan e pouco reconheciam esses dois jogadores como base sólida para a “flipância” dos canídeos ser genial e maluca, não apenas maluca como foi sem eles e continua sendo até hoje (mesmo com 700 mudanças na lineup). Guigo, que gosta de um legends de mais contato, de ir até o limite e, mesmo que ultrapasse o limite muitas vezes e acabe entregando vantagens e complicando o próprio jogo e o de seus companheiros, ele não abdica do seu jeito de jogar e não por acaso, Guigo nunca foi tão bom quanto ao lado de Jojo. “Fadinha player” dizem, mesmo que as fadinhas sejam minoria na porcentagem de jogos totais do support. No geral, é apenas uma desculpa para nunca o colocarem na sua posição de merecimento: um dos melhores supports da história do cenário. Sempre o jogam em tops 4 e 5, arranjam maneiras de ovacionar players medianos pra deslocar Jojo pra fora dos holofotes, já disseram até que trocar Jojo pelo fraquíssimo Frosty era um grande upgrade. Mas não tem problema, porque é fora dos holofotes que ele brilha, enquanto Guigo assume o papel de protagonista de anime e joga como se estivesse fazendo tiktok, Jojo está lá pra ser a constância necessária pra manter um time nos eixos. Uma insuportável constância, que ele suporta sendo igualmente insuportável enquanto teammate e suporta também o peso de se manter insuportável rumo à gloriosa evolução. Gloriosa evolução que é muito mais que um título da LTA, um jogador famoso por ser chato e reservado, como é o Jojo, foi responsável por demonstrar para o seu time que o desânimo que estavam, era errado; um jogador reservado, rogou aos teammates mais gritos, mais ânimo, mais energia, mesmo que não seja do seu feitio toda essa gritaria caótica, ele soube o que o time precisava e manteve-se constante, manteve-se insuportável e nesta insuportável constância, evoluiu. O suficiente para aceitarem ele como melhor support da LTA, nunca será, porque o cenário tem seus favoritos, mas tanto faz, ele vai continuar, obrigado redbert.
Nos dois novatos, vemos dinâmicas parecidas, Ayu em uma constância que assustou, não por ser muito bom o tempo todo, mas por raramente romper a posição de muito bom e deixar a nuvem da dúvida pairando sobre si: “será uma eterna promessa, ou um dia tornará realidade?”. E esta final não teve nada de promessa, foi apenas realidade. A realidade gigantesca de optar por ser givado completamente no draft e ainda assim apresentar mais gameplay que os consolidados adversários. Do outro lado Tatu, primeiro split na primeira divisão do league of legends latino, nada a provar, nenhuma responsabilidade e nenhuma pressão por resultados. Segundo lugar? Tá muito pago. Não pro Tatu, que desde o academy diziam ser um jogador que precisaria muito trabalho técnico nele pra dosar a sua agressividade característica, diziam que na LTA não seria tão fácil assim, diziam que o buraco seria mais embaixo, diziam e diziam, hoje não dizem mais porque a agressividade de tatu fez com que o segundo lugar pago garantido não fosse suficiente, ele precisava invadir um campo a mais, ele precisava gankar flashando o pit do Baron pra fugir da visão adversária, ele precisava colocar seu mentor no bolso e transgredir a gameplay metódica e sem paixão que Xero o convenceu que era o jeito certo a se jogar. Ele precisava ser o primeiro campeão da história da LTA Sul. Complementando o polo flipador do top side, com a segurança e a constância que não era mais promessa na bot lane.
E agora só faltava uma balança pra isso tudo, né? E que balança. Uma balança pai de família, transmissor de incontáveis doenças pro seu time que o fortaleceu. E que, entre jogar seguro demais e fazer “plays de tiktok”, encontrou nessa final a função que o consagrou campeão: a balança. O equilíbrio e a harmonia que o time precisava pra juntar a flipancia à constância sem ser uma constante flipancia e como fazer isso? Arriscando e sabendo a hora que deu ruim, recuar e resistir, ser um time resiliente que nunca deixa uma vantagem abalar, nunca deixa a peteca cair e que em um jogo perdido encontra um pickoff em um Sion imortal que todos achavam ser loucura, achavam ser uma jogada desesperada, achavam impossível de ser realizada, achavam que a Fúria estava entregando o jogo por ter perdido a alma e poucos segundos depois viram o Nexus da pain Gaming destruído.
Parabéns Fúria, amassem a Bilibili no MSI, eu sei que só chegar lá já tá pago, mas duvido que o pago seja suficiente pra quem conseguiu flipar quando podia, mas que nenhuma vitória veio de Flip e conseguiram o título mais incontestável da história do cenário sul-americano e que sabe muito bem que chegar no top 4 era impossível, passar da Keyd era impossível, vencer a Isurus depois de acordada, impossível, ser campeã da LTA, impossível. Vencer a Bilibili, impossível, da G2 e da Marines, idem. Mas sabendo que era impossível, eles foram lá e fizeram.