katekyo hitman reborn: a chama do último desejo

Por que você deveria assistir? #1 katekyo hitman reborn

fui desafiado a recomendar algumas das minhas obras favoritas com argumentos e achei uma ótima ideia expandir as recomendações para mais pessoas e com mais títulos. a escolha de katekyo como minha primeira indicação é uma maneira de aproveitar o timing da obra chegando ao catálogo da netflix, mas também é a minha maneira de homenagear e rebuscar um dos meus títulos favoritos da vida, visto que 2024 foi um ano perfeito para publicidades do aniversário de 20 anos da publicação do primeiro capítulo e nada fora do japão foi feito (e mesmo lá pouca coisa aconteceu), então cabe à minha pena (teclado no caso) escrever um dying wish que katekyo tenha algum novo boom de popularidade um dia, porque é uma obra que merecia um final melhor e merece novos públicos se divertindo com a leveza de um “anime b” em uma época que a shonen jump expandiu o seu produto como nunca antes e nunca depois.

o anime

katekyo hitman reborn conquista, antes de tudo, pela sua personalidade e identidade, infelizmente apenas no mangá é possível ver com completude todas as peculiaridades e excentricidades no traço e nas representações de akira amano. o anime generaliza boa parte do que tem de melhor nos design da mangaká, ainda assim não é suficiente pra matar a alma única que a obra tem e o que se salva dos ataques generalizantes do estúdio artland já é suficiente pra destacar a identidade do anime como algo único.

terminado na saga do futuro, pode-se dizer que é um ponto positivo do anime, já que tudo que acontece no mangá após essa saga é impossibilitado de ser desenvolvido por culpa do cancelamento precoce que a obra sofreu para dar espaço para o novo sucesso que surgia (assassination classroom), que deveria encerrar ou bleach ou katekyo para abrir espaço na revista e sim, por isso, jamais perdoarei bleach ou a shonen jump, porque apesar de ser uma das obras mais badaladas da revista, bleach vinha de meses de baixa popularidade e queda nas vendas, enquanto katekyo mantinha-se instável. fato é que, o anime terminado na saga do futuro ganha um status de obra fechada, porque a luta contra o byakuran é um evento muito superior em todos os aspectos que o fim do mangá, que foi uma forçada de barra pra acelerar as coisas ao ponto de tsuna precisar escolher entre haru e kyoko como esposa.

além disso o anime acerta bastante nos seus fillers, que são bastantes divertidos. e acerta em repartir os normal days para acelerar os arcos com lutinha, o que torna o anime mais dinâmico que o mangá.

normal days

falando nos dias normais, trago eles aqui como importante parte da minha recomendação.

recentemente, yozakura family ganhou uma animação. o título foi um dos meus favoritos na época que eu tentava acompanhar vários mangás recentes, justamente por ter muitas semelhanças com katekyo. porém, seu anime foi muito mais rushado que o mangá, afinal, hoje em dia um anime não tem mais permissão pra ser lento e gastar tempo de tela desenvolvendo situações corriqueiras (obrigade jujutsu e derivados). na época de katekyo isto ainda não era proibido e a obra não se preocupa em usar episódios e mais episódios pra apresentar o mundo com calma e cozinhar em banho-maria o que cada personagem tem para oferecer, sem se preocupar em entregar uma temporada de 12 episódios onde tudo acontece e tem final fechado. e é muito gostoso acompanhar esse desenvolvimento, mesmo muita coisa ali sendo desnecessária pro desenvolvimento do mundo ou da história, elas ambientam e te faz viver as aventuras banais do dia-a-dia e se esquecer que um dia terá uma grande batalha, uma grande aventura, uma grande sei lá o quê, tudo é cozinhado sem a pretensão de ser grande e, justamente por isso, torna-se gigante e o que não nos é entregado em velocidade, chega na estética única de akira amano.

akira amano

hoje espreme-se à última gota tatsuki fujimoto (chainsaw man), afim de lucrar com a sua estética diferenciada e, mais recentemente, vemos a ascensão da nossa gótica favorita kei urana (gachiakuta), mas no fim do dia o que importa mesmo pro sucesso de uma obra que conta uma história é a história. o que não torna irrelevante o papel estético do artista para construir um estilo que se destaque, muito pelo contrário. e aqui que akira amano se torna um grande pilar dos meus motivos para achar que você deveria assistir katekyo hitman reborn, o que há de excêntrico nela não se perde e ganha vida além do traço, além do mundo. em uma época onde a história importava mais ainda que hoje.

akira investe nos detalhes como nenhum outro. seus personagens são marcantes e expressivos e além disso são desenvolvidos não só pelo o que acontece e pelo o que é narrado, a moda é um ponto levado em consideração, eles trocam de roupa! que grande raridade, personagens que fogem da norma padrão de usar uma mesma vestimenta por 200 episódios pra criar conexão. em katekyo, a vestimenta é um complemento importante dos personagens, não só isso, os looks carregam além dos personagens, a própria mangaká que me faz pensar diariamente o porquê dela gostar tanto do número 27 (mas não julgo, é um belo número, apesar de não ser primo). e isso é um ponto muito importante, porque torna katekyo esquisito e, em tempos que a pasteurização nos quer todos iguais, ser esquisito é o melhor elogio que podemos receber.

outras esquisitices únicas em katekyo:
1) bordões. pra quem enjoou de ouvir o naruto falar “dattebayo” ou o luffy meter o seu “kaizoku ou ni ora wa naru” não vai entender a beleza desse ponto, afinal, hoje em dia os bordões são démodé. mas katekyo é perfeito em seus bordões seja com hibari avisando que vai bater nas pessoas até a morte, com o cumprimento do reborn em seu “oi” em italiano niponizado (ou bebeizado).
2) bebês. não preciso desenvolver, bebês mafiosos amaldiçoados superpoderosos, com uma chupeta colorida amarrada no pescoço.
3) tsuna-san, tsuna-kun, dame-tsuna, tsunayoshi-kun, décimo, etc… ninguém (ou quase ninguém) chama o protagonista do mesmo jeito, cada pessoa se refere a ele de um jeito diferente e é uma parada tão boba, tão esquisita… que é perfeito, apenas.
4) vilões esquisitamente carismáticos. o carisma dos vilões é algo que torna qualquer obra mais atrativa, mas do jeito esquisito que a amano faz, talvez apenas oda seja capaz de superar. eu que já reassisti o anime três vezes, sempre me pego torcendo pelo momento que o squalo vai aparecer gritando tal qual protagonistas de anime alksdjfkljasldk
5) peculiaridades. no núcleo principal, o carisma vem junto com umas coisinhas esquisitas. tipo o yamamoto até o final achar que está brincando de máfia, o gokudera sempre passar mal quando vê a irmã, a i-pin sempre explodir, o lambo sempre chorar e viajar no tempo, o hibari… bem… te batendo até a morte, etc.
6) o poder, né? o próprio sistema de poder do anime é uma esquisitice, porque o protagonista tem que tomar um tiro, morrer e renascer pra realizar o seu último desejo. e ele faz isso, por episódios e mais episódios, correndo de cueca pela cidade.
7) é primo, se vamos vangloriar merecidamente as esquisitices da amano, que vangloriemos as minhas também. ciaossu.

sawada tsunayoshi

protagonistas bons em nada? temos. protagonistas introvertidos? também. protagonistas sem nenhuma perspectiva de futuro? alguns. protagonistas que nunca mexeriam um músculo pra mudar a própria vida? certeza que tem. protagonistas que recebem a visita aleatória e inesperada de um professor de assassinos profissionais? talvez tenham. tudo junto? só sawada tsunayoshi, ou dame-tsuna (bom-em-nada-tsuna).

se identificar com protagonistas é delicado, ainda mais quando o protagonista em questão tem a alcunha de bom-em-nada e, para mudar qualquer coisa na própria vida, precisa literalmente tomar um tiro. sei que não parece muito atraente essa ideia de protagonista passivo, que não tem um sonho, não quer ser prefeito nem rei. mas a amano consegue fazer ser incrível. é um pouco preocupante se identificar com o tsuna? com certeza, mas katekyo faz disso uma parada sensacional e não do jeito crepúsculo que faz a bella ser vista como incrível por absolutamente zero motivos, o desenvolvimento do tsuna em shinuki mode (quando ele toma o tiro) atrai as pessoas para ele e cria um círculo e, sem tomar o tiro, ele interage com esse meio e descobre aos poucos seus propósitos, suas prioridades. e é tudo bastante sutil, porque dialoga com muitos de nós bichos do mato sem capacidade comunicativa (eu sendo o maior dos bichos do mato) e alivia nossa barra, sabe? sem romantizar que somos as melhores pessoas só por sermos introvertidos e sem nos deixar pensar que somos as piores só porque não conseguimos conquistar tantos relacionamentos quanto os outros. katekyo não só representa um protagonista introvertido e fracassado, ele humaniza o fracasso, humaniza a introversão; nos faz sentir ser gente e mostra que é possível se incluir e se rodear de gente, a gente só precisa conseguir mostrar o nosso melhor. o que não é fácil (não atoa, o anime representa isso com o tsuna tomando um tiro na testa), mas existe muita gente esquisita no mundo e a nossa reclusão não é tão esquisita ao ponto de não merecer pertencimento, não merecer um bonde. e se a gente merece um bonde, a gente pode correr atrás dele com a nossa chama do último desejo.

acho que eu falaria de katekyo hitman reborn por mais horas, mas falar do tsuna já me emocionou o bastante pra parar por aqui. espero ter convencido vocês a assistirem esse anime perfeito e, se não convenci, quem sabe o próximo.

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