2k10 pra trás
15 anos no passado, mas parecem 84, que somados com os 15 quase chegamos ao título de hoje cem anos. Porque, como me propus a fazer uma retrospectiva de mim, não posso deixar de fora esse período, apesar de ser um tempo que lembro apenas flashs e parece nem ter acontecido, quase como se eu tivesse nascido de verdade em 2k11 ou se tivesse tido um coma de 100 anos até acordar em 2k11.
Me atirar em paredes, rolar de escadas, pular de escadas caindo de costas no chão, brincar de luta livre com canos e cabos de vassoura na quadra da escola — canos e cabos que saía colecionando na rua —, cabecear uma corrente de ferro em queda livre superior a 8 metros, truco, taekwondo, namoro, matemática e muitas outras esquisitices. Esse foi meu ensino médio, todas as atividades inspiradas ou compartilhadas por aquele que viria a se tornar meu padrinho de crisma, exceto uma, meu único namoro até então.
Começando pela exceção, lembro pouco, mensagens carinhosas, planejamentos sexuais, boataria, truco, baile, ciúmes que não eram tão ciumentos quanto deveriam e nem brandos o suficiente pra ser inofensivo (não sei explicar) e como todo amor eterno, esgotara-se em três meses. O término foi culpa minha, não lembro os porquês, mas culpa minha com certeza e falo isso por me conhecer, não pra me fazer de coitado (porque já me fiz muito naquela época) e o começo culpa dela. O começo é a parte mais importante a se falar, porque é um pouco preocupante pra mim que meu primeiro e único namoro tenha se dado naquelas circunstâncias: uma colega de sala que senta comigo porque se matriculou atrasada e não teve tempo de comprar as apostilas e precisava acompanhar com alguém; no mês seguinte, as apostilas não são compradas de novo por opção e assim se repete por um tempo. A colega de sala começa a participar da mesma academia que eu de taekwondo, elogios são recorrentes, me pergunta algumas vezes do meu coração como um cardiologista e muitas outras coisas que, bem, claramente sinais. Nenhum captado, o que levou ao meu pedido de namoro muito posterior aos sinais só acontecer devido a muita encheção de saco das meninas da sala me cobrando ação. E agi, eu sempre ajo, o problema é que só ajo em graus de certeza preocupantes, muitas vezes a ação vem quando a certeza já foi tanta que deixou de existir.
E as outras coisas todas dizem respeito ao meu melhor amigo da época, pessoa com quem fazia grandes loucuras, passava minhas horas mais felizes e amigo mais recente daquela turma do ensino médio. Pessoa também que me ajudou a confundir minha aptidão à matemática com vocação pra seguir carreira na área, porque era algo que ele dizia sonhar e adotei o sonho pra mim também, entrei na faculdade de matemática e ele não. Percebi logo depois que não era minha praia e que eu só tinha herdado a vontade dele, como em toda minha vida herdei vontades e assumi minhas. O que é engraçado, porque as últimas notícias que recebi da minha ex em relação a mim, é que ela em uma viagem tinha dito que nós não demos certo porque eu não tinha personalidade. Bem, é verdade, mas também mentira, porque eu tenho muitas personalidades, nenhuma delas posso chamar de minha de verdade, mas cada pessoa que já me impactou de alguma maneira entra na colcha de retalhos do que chamo de minha personalidade, mas sim, isso é meio que a mesma coisa de ser sem personalidade. Não tenho culpa disso. Mas entendo quem não queira se envolver com essa perigosa massa amorfa pronta para absorver tudo ao seu redor e tornar parte de si.
Hoje ambos estão equidistantes de mim na proximidade e acredito que nas ideias (pelo pouco que sei deles), mas agora me surge a dúvida sobre qual deles foi meu verdadeiro amor do ensino médio.
Antes do ensino médio, minhas lembranças são ainda mais remotas, lembro de muita sinuca, muito tempo atrás do balcão, os queridos fumantes me atirando fumaça sem pudor, lembro um pouco de ragnarok e tribal wars no computador, futebóis cada vez mais raros na rua e na escola quase nada. Lembro que era muito apaixonadinho por três meninas, em três ocasiões diferentes e duas delas hoje se descobriram lésbicas (espero que a terceira também encontre seu caminho), algo peculiar no meu gosto pessoal por impossibilidades que vinha desde catarrento e perdura, graças a deus, porque deus me livre de gostar de alguém que não tenha nem um pézinho na comunidade, de verdade mesmo. Tirando isso, lembro poucas coisas, algumas memórias católicas com minha avó aqui e ali, alguns episódios de desenho animado, uns exercícios de matemática com meu pai, o olhar de tristeza do meu avô quando emprestei o dinheiro que ele me deu pra minha avó e pra minha tia, muitas brigas com meu primo e mais algumas coisas pontuais e sem muita expansão nas memórias, lembro dos estopins, não dos contextos.
Eu poderia fazer um exercício pra lembrar mais e possivelmente traria mais coisas interessantes, entretanto não quero e não vou. Porque isso é papo pra outra hora.