open door


Tá, eu posso dizer uma coisa louca?

Impossível ler “open door” e não se lembrar da melhor música da Disney, “love is an open door”. Tema do romance que é o mais próximo que a empresa já conseguiu passar de transgredir a si mesma, mesmo com todas as tentativas de se vender como progressiva, mesmo com a compra desenfreada de franquias revolucionárias e que falam sem medo sobre revolução. “love is an open door” é o retrato da própria disney se colocando na posição do amor e a porta aberta sendo um golpe, onde várias empresas aproveitaram até a última gota do “pink money” e dos outros relativos “moneys” e lucraram além do lucro, criando a falsa ideia de existir uma cultura de representatividade e transgressão e, enquanto lucravam com essa falsa cultura, investiam em fomentar o ódio à mística “cultura woke”. Um golpe de mestre, muito melhor que o príncipe Hans jamais poderia imaginar.

Portas abertas nem sempre significam oportunidades e ”amor” as vezes significa apenas um avião colorido bombardeando o Laos e esse texto é para dizer que “nem sempre” e “as vezes” ganham significados opostos e radicais quando a porta e o amor são agentes do capitalismo. Como assim? “às vezes amor é um avião blá blá blá” vira “sempre amor é um avião blá blá blá” e “nem sempre portas abertas blá blá blá” vira “nunca portas abertas blá blá blá”. Nunca uma porta aberta por um bilionário é uma oportunidade, sempre é uma armadilha ideológica e não, não é “ideologia woke”, se um bilionário é “woke” é porque ele sabe que vai lucrar com isso e vai usar esse lucro pra destruir as comunidades que finge dar voz.

Ontem quando vi que o tema de hoje seria esse pensei em falar de coisas bonitinhas e esperançosas, até porque a Anna é a minha segunda princesa favorita da Disney e queria homenageá-la e justamente por isso que, quando comecei a refletir, percebi como Frozen deixa escapar meio sem querer uma importante crítica à solidão, que a cada dia se intensifica como um problema muito sério da nossa sociedade banhada pela propaganda, pelo econocoachismo, pelo influenciarismo, pela cassinagem e por outros inúmeros golpes e não tem como falar de portas abertas de uma perspectiva otimista, quando vidas são destruídas diariamente por portas que as guiam diretamente ao abismo.

A mesma solidão que é tratada com chacota na sociedade quando falamos das famigeradas “tias do zap” ou dos golpes que só velhinhas caem, hoje se torna algo mais perigoso, perde seu status de apenas crueldade e ganha o status de perigo. O maior perigo é o mais óbvio e vemos escancarados no 8 de janeiro e nas inúmeras células nazistas que nascem no Brasil germinadas em movimentos “redpill” e “incel” e pode parecer que estou aqui agora passando pano para estes agentes, mas muito pelo contrário, o passado triste de alguém não a exime de qualquer culpa. Porém, urge que pensemos nessa solidão, não como uma absolvição, como uma profilaxia. Voltando à música, o começo dela é “muitas portas se fecharam pra mim sem razão”, portas fechadas estas que levam Anna à enxergar uma porta abrir no golpe e esse é o ponto, portas fechadas levam as pessoas a acessar a primeira coisa que apareça como se fosse uma salvação e hoje, mais que nunca, vemos pessoas acessando as piores portas do mundo e é delicada e tênue a linha de compreender que estas pessoas chegam ali por falta de opção (seja nos vícios ou nos crimes de ódio) e absolvê-las por serem vítimas. É difícil entendermos que vítimas também podem ser culpadas e também é difícil entender que culpados também são vítimas, ainda mais nos tempos atuais, onde o ódio é força motriz.

E daqui pra frente eu apenas me estenderia no assunto de maneira confusa e incoerente e daria margem à interpretações diferentes do que acredito e estou falando, deixarei o desenvolvimento para uma próxima oportunidade e apenas concluirei que é necessário que abramos as portas antes que seja tarde demais e que, quando tarde demais for, possamos compreender que parte daquele problema poderia ter sido evitado, como não foi, que eles sejam julgados como os problemas que são, sem passar pano, mas que as mãos mais pesadas recaiam sobre quem cria o problema e não pelas pessoas que se tornam parte dele.

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