Uh, dois dias de descanso no 67 soft punk e já nem lembro mais como se escreve e, sem o desafio, me dando temas para que eu fugisse, não tenho mais do que fugir e experimento na pele a condenação à liberdade.
Sem norte, sem métodos, sem listinhas, sem rotina, sem roteiro, sem base; finalmente pronto pra ser o eu absoluto, mas o que existe de eu sem tudo isso? O que existe de absoluto sem tudo isso? O próprio caos saberia existir sem uma certa metodologia a seguir? O fim da metodologia só existe se houver uma metodologia a ser quebrada, não é mesmo? E agora, sem desafio, não tenho mais como fugir do tema e terei que enrolar no que falar sem um ponto inicial, porém o ponto inicial já existe, afinal já estou dizendo coisas e refletindo sobre coisas, seria o ponto inicial uma coisa? Acho que não tem como não ser.
E não tem como ser, isso simplificaria muito o mundo. Tipo, o big bang é uma coisa. É certo dizer? Sim, mas parece errado, soa esquisito, um esquisito bonito, não nego, ainda esquisito. O Big Bang é o começo? Não, né? Apesar de muito anterior aos começos que defendem por aí, tipo deus. Deus é uma coisa que tentam descoisar e tratam heresia quem o chama de coisa. Muito pelo contrário. Heresia é descoisar deus, ele é um aglomerado de histórias, de vivências, de crenças, de esperança, de tudo e nada. Deus é a coisa mais importante do nosso mundo atual, não por sua própria importância, pelas importâncias que lhe são atribuídas em demasia e que, se o chamassemos “não-coisa” (como querem seus pastores) seria um profundo desrespeito com todo o acumulado sentimento.
Mas chamar de não-coisa não é um desrespeito, só no caso de deus é, porque seus teóricos o chamam assim para colocá-lo acima das coisas e deus nada teria de importante se não fosse do nosso plano, a fé em si que o torna quem é. Todos eles. Todo o resto pode ser não-coisa positiva, por exemplo Ferreira Gullar fala da poesia como uma não-coisa e é uma bela não-coisa. O ponto é saber o que é coisa, o que é não coisa e se existe uma real diferença entre as duas coisas. Ou seja, após eu chamar as duas coisas de coisas, já respondo que não tem diferença e que toda não-coisa é uma coisa, seria toda coisa uma não-coisa? Então como podemos saber o que é o quê? E o que não é o que não é? Ou não é o que é? Existe o movimento de uma coisa para o estado de não-coisa? E, se não existe, existe sequer movimento? E voltamos pra negar a existência do movimento sem provas, mas um dia eu provo, eu juro.