Solo leveling é o Yuri Alberto dos animes

Algumas semanas depois do encerramento da segunda temporada de um dos animes mais comentados do momento, venho trazer-lhes as verdades mais verdadeiras que a própria verdade: Solo Leveling é o protagonista que o time do povo precisa.

Há muito inserido nas culturas nipônicas de animação e quadrinização já vivi alguns apocalipses que juravam o fim da indústria e, apesar de vivermos na época onde mais se produz e consume mangás e animes, creio que estamos o mais próximo desde sempre dessa suposta crise — não do mercado, da criação. Porque desde Kimetsu no Yaiba e antes deste também, vemos cada vez mais os hits do momento distanciando-se do que definimos como um “puro” shounen e a situação se torna mais alarmante na atualidade onde quase todos os hits que temos no passado recente 1) fogem desse padrão (Ao no Hako nos mangás, Frieren nos animes) ou 2) são produções ocidentais (Samurai dos olhos azuis, Cyberpunk). O “shounen tradicional” tem se contentado em aparecer nas centenas de isekai repetitivos ou hits de meia temporada incapazes de causar ecos no público e gerar discussões ou perdurar ao cruel fluxo do tempo, até os competentes animes de Boku no Hero e Jujutsu Kaisen falharam em segurar seu tempo em alta e o mangá de Black Clover já está extinto em muitas memórias por não ter tido a sorte de um anime tão competente assim. O que torna menos exagerado pensar que o fim — cada vez mais próximo — de One Piece, possa trazer consigo a morte do shounen.

Eis que, autorizado o Solo Leveling, respira fundo, pra bola, bateu de pé direito, gol! Solo Leveling! É de um protagonista que o time do povo precisa? Aí está, Solo Leveling, sem se esconder, sem se omitir, pegou a bola, botou debaixo do braço e foi pra cobrança de pênalti.

Solo Leveling cobrou a penalidade e, mesmo odiado e ignorado pelos japoneses (como o próprio Yuri pelos corinthianos muitas vezes), estufou as redes. Emplacou o resultado que permite o respiro e, de respiro em respiro, quem sabe até o título do renascimento dos shounen de lutinha. Eu sei que Solo Leveling é uma obra coreana e nunca será bem vista pelos japoneses, ainda mais por antagonizá-los em alguns momentos e que não fazer sucesso no mercado japonês é uma barreira quase intransponível para se tornar o protagonista e concordo com essa visão, mas como pessoa que já ganhou dinheiro apostando (não façam isso) em gol do Yuri Alberto na porta do rebaixamento contra o então vice-lider Palmeiras, mesmo sabendo da situação complicada do Corinthians recém eliminado da sulamericana e há menos de duas semanas de distância da eliminação na Copa do Brasil contra um Flamengo com um jogador expulso, mesmo sabendo das claras limitações técnicas do jogador, mesmo sabendo da potência tática e técnica comandada pelo demônio Abel Ferreira, mesmo com tudo contra; uma coisa eu sempre soube: gol o Yuri sabe fazer e nisso eu posso ter fé.

E é na fé que me agarro em Solo Leveling, uma obra tecnicamente tão limitada quanto o melhor camisa 9 do futebol brasileiro na atualidade; se o anime tem um roteiro clichê, com poucas novidades, desenvolvimento fraco de personagens, uma trama levemente previsível, um worldbuilding raso, um protagonista com o carisma de uma mexerica recém chupada e no máximo meia dúzia de personagens secundários com um mínimo de carisma próprio; se o jogador tem dificuldade em dominar bolas, acertar um passe de 5 metros, inúmeras finalizações mais próximas da lateral que do gol, contra-ataques desperdiçados por tentar mostrar a habilidade que não tem, um estilo de jogo desengonçado; e daí? Ambos entregam o que mais importa e um pouco mais na base da garra. Yuri corre incansavelmente, ajuda a defesa, desarma adversários, rouba bolas, briga o jogo inteiro; Solo Leveling compra brigas ao se recusar a adaptar personagens coreanos como se japoneses fossem, cria um anime com muito mais significado, ritmo e sentimentos que o próprio manhwa, adapta com carinho e competência mesmo colecionando haters de todas as frentes. E isso é só o plus. O essencial é que ambos alteram o placar e a artilharia de Solo Leveling entrega lutinhas muito bem animadas, uma direção excelente, uma adaptação muito bem construída e uma obra que supera todas as suas limitações ao entregar um material cheio de personalidade e identidade nos seus movimentos, traços e visuais, uma obra que, mesmo sendo mais do mesmo, consegue se destacar em suas próprias forças e se diferenciar das demais.

Se não te convenci ainda que Solo Leveling é o Yuri Alberto dos animes, não se desespere pois guardei minha principal carta para o final: o chassi, a lataria, a fuça, ou como preferirem chamar. Chamem como quiser, não podem negar que a boniteza é outro ponto importante de convergência entre anime e jogador.

Brincadeiras à parte, tenham fé querides otaquinhes, Solo Leveling veio para assumir a artilharia e salvar os shounens do quase rebaixamento à vaga na libertadores. Espero que não tenham uma eliminação tão precoce quanto o meu Corinthians, mas de todo jeito o trabalho já está feito e mesmo que Frieren, Ao no Hako, Dungeon Meshi, Apotecária e derivados mantenham-se na liderança no momento (e que bom, pois só shounen também ninguém merece), os shounens não estão mortos e agora eles têm um novo protagonista.

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