what i wrote

Quem é?
É o cavaleiro branco do cavalo preto e branco.
Quem?
O cavaleiro branco do cavalo preto e branco
Ah! O cavaleiro branco do cavalo preto e branco?
Sim, o cavaleiro branco do cavalo preto e branco.

Perdi as contas de quantas vezes contei a piada do cavaleiro branco do cavalo preto e branco e quantas vezes estendi um pouco a versão em relação a vez anterior que eu a contara. Recentemente comecei a refletir sobre o cavaleiro branco do cavalo preto e branco por uma ótica kafkiana e como encaixa, como tudo é perfeitamente encaixável entre si e não me coloquei ainda a refletir mais profundamente de quanto disso existe nas histórias que planejo contar, nos mundos que pretendo escrever. Reservei essa reflexão para ser dissecada em tempo real com vocês.

Acredito que a luta contra deus seja o ponto mais recorrente nos meus projetos: seja na distopia infanto-juvenil que o plot final é a necessidade dos protagonistas derrotarem seu mentor, que também é o ser mais poderoso do universo e responsável por toda a criação, além da educação daqueles formatados para o derrotar; seja na fantasia de poderes mágicos e lutas de espadinhas sem protagonista definido e que em algum momento quem assumirá essa posição será o deus daquele mundo que deverá se unir com deuses de outros mundos e suas próprias criações para lutarem contra o deus primordial; seja na história da banda punk rock, onde as forças policiais logo se revelam sendo heróis antigos renascidos agindo em nome de seus respectivos deuses e todos coligados para manter uma certa ordem ocidental que deverá ser confrontada pela nossa banda queer e punk. Não sei de onde vem essa neura que tenho de colocar a luta contra deus nas minhas histórias, mas ela apareceu nestas três e em duas delas deus é o autor, que teoricamente sou eu, será que me odeio? Nunca saberemos. Fato é que essa opressão causada por uma autoridade seria um pouco kafkiana também, porém todas essas histórias são muito básicas e a luta não encontra os empecilhos labirínticos necessários pra poder receber o adjetivo.

Outro tema que gosto bastante é uma sacanagenzinha. Não, infelizmente não sei escrever pornô, nem hot. Essa sacanagem vem de outras paradas, vem mais do humor, não necessariamente o humor no texto, mas o humor de imaginar as pessoas lendo e me divertir ao imaginar as supostas reações. Por exemplo, tenho a história que narra a jornada heróica de um personagem conspiracionista lutando contra o comunismo no Brasil e a escrevo através de paródias e gêneros tão baixos que nem são dignos de serem assim chamados. Ou uma outra que fantasia-se de distopia, quando na verdade é uma brincadeira que transforma o Brasil no extremo oriente, para que eu possa contar um pouco sobre a guerra da Coreia vs base militar estadunidense sem que as pessoas parem de ler no caminho, porque só perceberão do que se trata muito depois. Nada kafkiano aqui também.

E por isso não devemos deixar o trabalho pra ser feito em tempo real, porque planejei esse texto para explicar o porquê todas as minhas histórias são o cavaleiro branco do cavalo preto e branco e descobri que nenhuma é, nenhuma é sequer kafkiana (que pela amplitude dos significados seria mais fácil enquadrar algo aqui) quem dirá o raso cavaleiro branco do cavalo preto e branco e sua jornada heroica em busca de casar-se com a princesa.

O bom é que agora que falei sobre tudo, sei que não escrevo sobre a mesma coisa e sei que nem tudo que eu escrevo é parecido entre si, mas ainda assim é possível resumir que tudo que eu escrevo pode se encaixar em uma das quatro categorias a seguir: 1) é sobre me destruir; 2) é contra a autoridade divina; 3) é sobre me divertir ou 4) cavaleiro branco do cavalo preto e branco. Sendo o quarto ponto uma escrita pretensiosa ao labiríntico sem final ou com final desimportante, um amontoado de portas e possibilidades que se multiplicam ao infinito sobrando apenas a morte do movimento. Não explicarei, vocês que lutem.

É isso, hoje termino esse desafio de trinta dias escrevendo e acho que tudo que escrevo acaba sendo sobre mim e meu gigantesco ego que é impossível de ser mensurado com qualquer métrica jamais descoberta e ao mesmo tempo irredutível ao ponto de caber embaixo da pata de um gatinho encostada no chão sem tocar um ou outro.

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