Eu vejo o que estou fazendo, não me orgulho, tampouco desprezo. Sei que a vitória é importante pro processo e sigo vencendo, com trapaças? Sim, mas vencendo. Já decidi que minhas trapaças deverão ser menores conforme os desafios distanciem-se dos inícios e não permitirei que qualquer martírio tome conta de mim, não é fácil, diria até que é mais difícil trapacear conscientemente e seguir em frente, que verdadeiramente vencer tudo, porque o peso dos olhos que nunca descansam compensa e dobra a aposta.
A culpa vê o que estou fazendo e observa atentamente, a culpa é uma águia cruel pronta pra nos engolir. Porém eu olho de volta, gosto da competição e vou competir. Hoje completo o desafio de falar de testemunhas, testemunhando o testemunho de minhas provações travessas. Se provar para si, ciente que trapaceia, que escreve bobagens só pra cumprir o desafio dos 30 dias e dar um check na meta de escrever diariamente e ganhar uma vida extra por fazer 11 das 11 tarefas, quase todas mal-feitas. É difícil, mas recompensador, porque ouvi uma frase recentemente que me alivia bastante: não existe nada no mundo malfeito que seja pior que algo não feito.
E nisso fui testemunha, testemunha da minha própria vida, por eras ao assistir a mim mesmo me afundar em vacilos que me levavam a ficar semanas, quiçá meses sem fazer nada para me preparar para o próximo recomeço. É melhor vacilar e trapacear que outra despedida em busca de recomeços. A escrita é a mais radical das vítimas destes tempos sombrios, uma das coisas que mais amo fazer e, se eu fosse contar, acredito que a cada dia que escrevi na minha vida houveram pelo menos 10 que não escrevi. E nisso devo agradecer minhas trapaças, não gosto da maioria das coisas que ando escrevendo, porque sempre deixo pra última hora e acabo escrevendo qualquer coisa. Mas estou há 15 dias escrevendo qualquer coisa, com um único dia de vacilo, sendo ainda um vacilo menor, já que fiz um poema pequeno.
Como posso culpar a trapaça ou me culpar por trapacear se os resultados são tão favoráveis? Insatisfatórios ao extremo, ainda assim mais satisfatórios que todas as outras vezes que escolhi não trapacear porque fui atropelado pela culpa de estar mentindo pra mim mesmo. Hoje minto para quem mente pra mim mesmo e, como bem aprendi nas aulas de matemática, o inimigo do meu inimigo é meu amigo.