tiktoktiktok

Vi esse tiktok aqui ontem e quase não consegui dormir pensando, porque sim, acho que é isso aí, não sou desse planeta. Vão lá assistir o original que é um puta desabafo daora e depois voltem aqui, porque vou usar esse gatilho pra voltar a gravar algumas coisas.

Antes só avisar que todos os roteiros dos meus vídeos no tiktok estarão no blog da bio pra substituir as legendas, porque infelizmente não disponibilizo dos aportes financeiros ou temporais pra legendar meus vídeos e tornar tudo o mais inclusivo possível, peço perdão de antemão.

Eu sempre quis e tentei muito manter uma frequência de postagens no tiktok e sempre não consegui porque fico mal por nunca me sentir eu mesmo, depois fico mal por não conseguir garimpar um nicho, depois fico mal pensando nos julgamentos, depois fico mal por sei lá qual motivo. Mas o primeiro talvez seja o maior deles, porque eu nunca sei o que é essa entidade que chamam de “eu mesmo” que preciso ser e, não sendo, me sinto artificial. E nessas artificialidades só me perco em um inescapável limbo.

Então decidi falar um pouco sobre mim, sem me preocupar se minha vida é suficientemente interessante pra isso. Começando pela identidade, que França fala, desde que eu descobri que existe algo que não seja masculino ou feminino ou seja os dois, eu soube e tentei não me permitir a dúvida quanto a minha não-binariedade e não foi difícil não duvidar disso, o difícil foi achar suficiente e parei de pensar, senão minha mente ia fritar e eu ia me sentir muito mal por nunca conseguir fazer meu corpo ser minimamente parecido com essa massa amorfa de cores e emaranhados desconexos que enxergo como identidade, como o tal “eu mesmo”. E é foda não ter a perspectiva de se sentir encaixado, por se sentir esquisito demais pra ser possível se ver no espelho assim.

E nisso vieram alguns isolamentos glaciais, como o tarot me advertiu posteriormente à maioria deles, mas não ao atual. Acho que eu nunca tive tanta dificuldade de encontrar um meio, uma galera, um círculo social, saca? Quanto agora e imagino que o motivo seja eu estar me isolando por ser esquisito demais e quero dar um basta nisso e começar por aqui, porque se vocês passearem pelo meu perfil, vão ver que o que mais têm são esquitices sem pudor (por mais pudico que eu tenha sido sobre a maioria delas em algum momento). Quero só postar, sem pensar em nicho ou em qualquer dessas coisas, só me expressar.

Talvez um dia eu crie um perfil pra outras coisas, mas agora só quero saber desse aqui e vou chamar de perfil de escrita, porque sim, eu escrevo por causa da minha multifacetada identidade, não além dela ou com apoio dela. Minha escrita só existe porque eu gosto de animes e mangás, porque sou faixa preta de taekwondo, porque dei aula de teatro e fiz oficina com mais de 10 peças apresentadas, porque faço letras, porque estou viciado em Kafka, porque já fiz matemática e fisioterapia e desisti, porque adoro acompanhar o cenário e as historinhas de league of legends, porque sou apaixonado em números primos e sempre me incomodo com os múltiplos de 5 e muitos outros porquês.

Minha identidade não é um assunto ou outro e meu conteúdo também não pode ser. Não quero abraçar o mundo com as pernas, porque só abraçar o mundo parece dolorosamente insuficiente.

Acho que o maior elogio que eu já recebi foi proferido com o asco de quem queria me ferir, a pessoa raivosa e querendo descontar suas frustrações pra suportar as dores da existência me viu pulando um banco feliz e contente e disse “nem se esforça pra ser gente” e, peço perdão a todas as pessoas que já me elogiaram com o fundo de seus corações, mas nada me marcou mais do que aquilo. Tanto positivamente, porque sim, naquela época não me esforçava mesmo e como era bom estar aquém dessa condição de “gente”, estar ao mesmo tempo além e aquém de ser. Mas também teve o impacto negativo, porque é um pouco desesperador olhar pra sociedade e pensar que todos estão me olhando e me julgando por ser insuficientemente gente, saca? Talvez ninguém esteja nem olhando, mas é impossível não pensar e isso me trava em incontáveis maneiras.

Por isso, vou tentar destravar aos poucos. Eu já tinha planejado voltar pro tiktok em agosto fazendo reviews de livros e limpando o meu guarda-roupa, porém vou adiantar um cado esse movimento porque quero parar de fazer grandes eventos pra tudo, parar de tentar fazer uma grande virada na vida ou ter um grande plot pra fazer um desafio ou uma dieta. Quero só deixar o caos gerir essa grande loucura que é a minha identidade ou a falta dela, que é a minha personalidade ou a falta dela.

Ainda quero fazer os reviews e de vez em quando um desafio, mas sem data pra começar, sem data pra terminar, sem listinhas ou metodologias. Quero só deixar rolar e crescer aos pouquinhos enquanto me expresso por aqui e tento achar quem eu sou ou me perder disso.

Como vocês podem ver, não tenho cenário, nem iluminação, nem áudio, mas quero ir construindo aos poucos um estilo de fazer as coisas e conto com qualquer um que queira dar sugestões ou tecer críticas, porque é muito difícil descobrir a minha cara, descobrir o que sou, porque sempre me sinto imitando tudo ao meu redor desde o nascimento e isso era algo que eu jurava que era igual pra todo mundo, mas recentemente percebi que não. Então quero expressar o amontoado dessas cópias e descobrir se existe algo de autêntico nisso ou se tudo é autêntico a sua maneira. Quero conversar com a Terra pra me sentir melhor nesse outro planeta esquisito e amorfo que vivo. É isso, falei, falei, falei e não falei nada, mas acho que é assim que a gente começa a organizar as ideias. Se não for também, quero desorganizar tudo até deixar definitivamente de me sentir obrigado a ser gente, ou culpado por nunca conseguir.

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